Gato Preto
Capítulo 2
Ela não sabia a razão de todos aqueles padres estarem perdidos naquele lugar ermo e frígido. Voltou para suas plantas, mas a cena não saía de sua cabeça. Estava tão distraída que se cortou fundo com a faca que usava para colher os caules com propriedades medicinais. Sua mão direita logo ficou banhada em sangue. Abgail correu para dentro para fazer um curativo. Enfaixou a ferida rápida e eficazmente. Por sorte não tinha sido a esquerda, sem ela não teria capacidade para fazer nada.
Ficou sentada na cama de palha enquanto relembrava de todas as cenas religiosas de seus longos doze anos de existência. Nunca tinha ido à missa. Não entendia o porque das pessoas se privarem de seus prazeres somente pelo medo de um inferno que podia nem existir. Um Deus amoroso não queimaria ninguém eternamente. Que mal faz amar sem amarras? Cristo mesmo não tinha se casado. O que um gato, animal que nem capacidade para pensar tem, poderia fazer de ruim? Por que um pai perfeito daria mais à alguns filhos do que à outros? Por que não devemos tentar melhorar? Qual é a virtude da miséria? Devem as pessoas serem obrigadas a acreditar em algo que não toca seus corações? Ela já tinha lido a bíblia, coisa que a maiorias dos cristãos nunca poderia fazer. Seus tutores tinham-na ensinado muito mais do que a ''arte maligna''. Ela conhecia grandes filósofos e outros mestres extremamente elevados como Jesus. Nada era como os padres pregavam, eles conheciam a verdade e a deturpavam, isso a enojava. Mas as próprias pessoas procuravam a ignorância, gostavam de não ter responsabilidade pelo próprio destino, irônico já que o livre arbítrio é uma das faculdades que os católicos pregam que Deus nos dá.
Não viu o dia correr, já era noite quando sua tia chegou. Aislin estava furiosa. Seus cachos ruivos soltos, as mãos em punho e a veia pulsante no pescoço translúcido eram só reflexos do que seus olhos expressavam suficientemente bem. E Abgail sabia bem que ela só ficava desse jeito quando desafiavam suas crenças, não era por sua sobrinha ter se esquecido de trabalhar, a mulher nunca ficava mais do que levemente irritada com isso. Mas neste estado ela usaria qualquer um para descontar sua raiva. Abgail era o alvo mais fácil e o mais próximo. Que Gaia a protegesse da fúria daquela mulher.
-Por que não esteve no campo hoje?
-Eu esqueci.
-Sabia que Tauron Gigaes também?
Então ela achava que eu estive levantando as saias para aquela criatura comum? Ele ainda por cima é casado.
-Não. Como poderia saber?
-Ele foi visto andando por esse lado do feudo?
-Visto por quem? Pela Meliie? Todos sabem que é ela que vive cercando aquele ordinário mesmo ele sendo casado.
-Mas a Mellie vem de uma boa família cristã.
-Se quer uma vida fácil é só se batizar.
Não cheguei a perceber que horas o tapa chegou.
-Você quer nos arruinar?
-Eu não fiz nada.
Nesse ponto não duvidava que nos ouvissem à cinco quilômetros dali.
-Sua pequena mentirosa! Você devia ter pelo menos me avisado para que eu pudesse te acobertar!
-Eu não fiz nada!
-Não minta para mim!
Ela arrastou a criança para o chão pelo cabelo enquanto desamarrava os cordões da roupa da menina. Abgail gritava. A cada grito levava uma pancada de cabo de vassoura.
-Me solta! Não encoste em mim!
A tia tentava separar as cochas da sobrinha. Arrancou suas roupas íntimas e enfiou um dedo vagarosamente na moça. Foi na verdade um pequeno exame, cuidadosamente controlado por Aislin. Mas no estado em que se encontrava Abgail, aos seus olhos foi um estupro. Sua tia havia estuprado seu orgulho, sua moral e seu coração. De que adiantava seu corpo ficar imaculado se sua alma tinha sido transfigurada?
Aislin se levantou mecanicamente, por dentro estava destruída pela atrocidade que tinha feito à sobrinha. Mas por fora só deixou que ela visse uma mulher de ferro.
-Não é uma vitória ser capaz de dizer não ao primeiro que aparece.
Não viu o dia correr, já era noite quando sua tia chegou. Aislin estava furiosa. Seus cachos ruivos soltos, as mãos em punho e a veia pulsante no pescoço translúcido eram só reflexos do que seus olhos expressavam suficientemente bem. E Abgail sabia bem que ela só ficava desse jeito quando desafiavam suas crenças, não era por sua sobrinha ter se esquecido de trabalhar, a mulher nunca ficava mais do que levemente irritada com isso. Mas neste estado ela usaria qualquer um para descontar sua raiva. Abgail era o alvo mais fácil e o mais próximo. Que Gaia a protegesse da fúria daquela mulher.
-Por que não esteve no campo hoje?
-Eu esqueci.
-Sabia que Tauron Gigaes também?
Então ela achava que eu estive levantando as saias para aquela criatura comum? Ele ainda por cima é casado.
-Não. Como poderia saber?
-Ele foi visto andando por esse lado do feudo?
-Visto por quem? Pela Meliie? Todos sabem que é ela que vive cercando aquele ordinário mesmo ele sendo casado.
-Mas a Mellie vem de uma boa família cristã.
-Se quer uma vida fácil é só se batizar.
Não cheguei a perceber que horas o tapa chegou.
-Você quer nos arruinar?
-Eu não fiz nada.
Nesse ponto não duvidava que nos ouvissem à cinco quilômetros dali.
-Sua pequena mentirosa! Você devia ter pelo menos me avisado para que eu pudesse te acobertar!
-Eu não fiz nada!
-Não minta para mim!
Ela arrastou a criança para o chão pelo cabelo enquanto desamarrava os cordões da roupa da menina. Abgail gritava. A cada grito levava uma pancada de cabo de vassoura.
-Me solta! Não encoste em mim!
A tia tentava separar as cochas da sobrinha. Arrancou suas roupas íntimas e enfiou um dedo vagarosamente na moça. Foi na verdade um pequeno exame, cuidadosamente controlado por Aislin. Mas no estado em que se encontrava Abgail, aos seus olhos foi um estupro. Sua tia havia estuprado seu orgulho, sua moral e seu coração. De que adiantava seu corpo ficar imaculado se sua alma tinha sido transfigurada?
Aislin se levantou mecanicamente, por dentro estava destruída pela atrocidade que tinha feito à sobrinha. Mas por fora só deixou que ela visse uma mulher de ferro.
-Não é uma vitória ser capaz de dizer não ao primeiro que aparece.